sábado, 26 de janeiro de 2013

Táxis em Porto Alegre


Referente à matéria de vocês, publicada na capa do Clic RBS http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/01/taxistas-preferem-permanecer-estacionados-a-trafegar-em-busca-de-passageiros-em-porto-alegre-4023964.html , venho por meio desse fazer algumas considerações.

1) "Taxistas preferem permanecer estacionados a trafegar em busca de passageiros em Porto Alegre"

Isso não existe. Não sei quem vocês estão entrevistando ou entrevistaram, mas isso é uma grande bobagem.
Os taxistas auxiliares trabalham por produção, ou seja, ganham entre 25% e 30% daquilo que produzem. Por qual motivo ficariam parados?
E quanto ao “estacionados”? Estacionados ou parados em algum ponto esperando algum passageiro? Estacionados onde?
Outro fator desconsiderado por vocês é o custo. Sendo jornalistas, entendo que os amigos estejam informados custo do combustível. Não seria esse um motivo para que os taxistas prefiram permanecerem em algum ponto esperando passageiros a rodar vazio pela cidade e não pegar nenhum passageiro ou ainda pior, pegar um passageiro que possa virar um assalto no final da corrida?
E aí falamos de outro fator que é a segurança, também desconsiderado pelos amigos.
Nenhum taxista prefere ficar parado. O caso é que as condições para que se rode em Porto Alegre no horário de “rush” (entre 17h e 20h) são horríveis e deixam os taxistas parados, presos, com algum ou sem nenhum passageiro, por muito tempo.



2) “Os dois principais motivos estão intimamente relacionados: a presença dos Barões das Placas (homens que administram, através de procurações, até 30 táxis) e a criação do sistema de cobrança baseado no quilômetro rodado.

Quanto ao “Barão das Placas” (figura criada por vocês repórteres), de acordo com as “informações” que vocês estão repassando, se é que ele existe ou pode ser considerado assim, comanda menos de 1% da frota de táxi.
Se esse tal “vilão” do ramo de táxis realmente instituiu essa modalidade de cobrança, seriam esses táxis comandados por esse personagem, em um universo de 4 mil táxis, que estariam influenciando em uma suposta falta de táxis em Porto Alegre?
Quanto ao segundo ponto, não existe cobrança de valor por km rodado. A forma de compensação do taxista auxiliar é a comissão, que varia entre 25% e 30% da féria bruta auferida no decorrer do turno. O que pode existir no que se refere a valores de km é sim a observação da quilometragem rodada como mecanismo de controle, já que o táxi funciona com uma relação de confiança sem nenhum tipo de controle mecânico da produção e fluxo de passageiros.

3) “Imposto por donos de veículos a seus motoristas auxiliares, o pagamento pelo quilômetro percorrido (sem levar em consideração o taxímetro) inibe a busca de clientes. Criada na década de 90, mas disseminada nos últimos cinco anos com o fortalecimento dos Barões, a cobrança pela quilometragem tem efeito direto na vida dos usuários de táxis.

É que o valor a ser desembolsado pelo funcionário do veículo varia entre R$ 1,30 e R$ 1,50 por quilômetro percorrido. O problema ganha dimensão porque a frota permanece nas mãos de auxiliares durante 65% do dia.

– Em média, se roda 200 quilômetros por dia, então um Barão embolsa cerca de R$ 300, mesmo que o seu auxiliar tenha circulado metade dessa distância com carro vazio em busca de cliente. Então, ninguém mais busca passageiro nas ruas – conta um motorista que há 13 anos trabalha como funcionário."

Isso é praticamente impossível e inviável, tendo em vista que o valor do km é de R$ 1,95, pagar R$ 1,50 e mais R$ 0,40 a R$ 0,50 de combustível por km, os auxiliares estão trazendo de casa dinheiro para dar para os permissionários. E novamente, se isso acontece, cobrança de valor por km, continuamos falando de 1% da frota.


4) "Como consequência, grandes eventos realizados em bairros extremos deixaram de ser atraentes para os taxistas. A conta feita por eles é a seguinte: o deslocamento do Largo Glênio Peres, no Centro, por exemplo, à Fiergs, na Zona Norte, pode custar até R$ 45 ao auxiliar. Mesmo que tenha a sorte de apanhar um passageiro que o traga de volta ao ponto de origem, ele receberá R$ 42,6 pela corrida. Ou seja, depois de quase uma hora de trabalho, o motorista ainda poderá sair no prejuízo.”

Isso é impossível. Pelo Google Maps, a distância do largo Glênio Peres até a Fiergs é de 17km. Tendo em vista que o motorista pagaria supostamente 1,50R$ por Km esse valor seria de R$ 25,50 e não R$ 45. E se fizesse uma corrida com o mesmo caminho de volta até o centro, com mesma quilometragem, esse valor seria de R$ 37,05 na bandeira 1 e R$ 47,08 na bandeira 2, tendo em vista que o valor do km é de R$ 1,95 e R$ 2,54 respectivamente e não R$ 42,60.


5) “O artifício que virou regra entre os detentores de permissões afronta a legislação municipal que, se respeitada, colocaria os táxis de volta às ruas. Ela estabelece apenas duas possibilidades de remuneração dos auxiliares: a divisão do faturamento, em que o permissionário fica com 75% do valor – o restante vai para o motorista –, ou a contratação com carteira assinada, pouco adotada.”

Isso não é regra. Sou permissionário de táxi e vivo o meio desde que me conheço por gente, diga-se 1980. A regra é uma compensação/remuneração variando entre 25% e 30%. Se essa cobrança de um valor por km, realmente existe, ela é uma exceção.

6) “Uma outra causa da carência de táxis está relacionada a uma lacuna no controle do serviço. Zero Hora apurou que a troca de turno, a lavagem do veículo e o acerto de contas entre donos de táxis e auxiliares ocorrem numa das horas mais movimentadas do dia: entre as 16h30min e as 18h30min. O horário escolhido pelos Barões das Placas leva em consideração razões privadas, desconsiderando o interesse público. Dessa forma, eles evitam que seus funcionários fiquem presos em engarrafamentos.”

Não sei a idade de vocês, tampouco do interesse pelo assunto táxis, mas se conversarem com a maioria dos taxistas, principalmente os mais velhos, verão que a troca de turno e lavagem dos táxis acontece nessa faixa de horário desde a década de 70. Isso se dava pela necessidade de escolha de um horário que existisse ônibus para que o taxista chegasse ao posto para pegar o táxi, bem como da coincidência dos horários de funcionamento dos postos de combustíveis que abriam às 6h e fechavam a noite, não permanecendo abertos durante a madrugada.
Como os táxis trabalham em turno de 12h, consequentemente a próxima parada para troca do turno era às 18h, ou seja, isso não tem nada a ver com os supostos Barões das Placas que supostamente comandariam em torno de 1% da frota.
E mais. Tendo em vista a maneira “maquiavélica” de administração desses supostos Barões e pelo suposto modo de cobrança por quilômetro rodado, que interesse teriam essas pessoas que o táxi não fique parado no trânsito?



A minha opinião é de que a matéria de vocês beira a irresponsabilidade, sendo generalista, sensacionalista e infundada, colocando a sociedade contra todos os taxistas.

Como disse anteriormente, vivo o meio táxi desde a década de 80, já que esse sempre foi o negócio da família. Trabalho de forma honesta e arrisco minha vida todas as noites em honra a um negócio que levou meu pai, assassinado trabalhando no táxi, mas que sustenta a mim e minha família a mais de 30 anos.

Posso lhes assegurar com tranqüilidade que isso que está sendo noticiado se é que existe, não é uma regra.

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