Referente à matéria de vocês, publicada na capa do Clic RBS http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/01/taxistas-preferem-permanecer-estacionados-a-trafegar-em-busca-de-passageiros-em-porto-alegre-4023964.html , venho por meio desse fazer algumas considerações.
1) "Taxistas preferem permanecer
estacionados a trafegar em busca de passageiros em Porto Alegre"
Isso não
existe. Não sei quem vocês estão entrevistando ou entrevistaram, mas isso é uma
grande bobagem.
Os
taxistas auxiliares trabalham por produção, ou seja, ganham entre 25% e 30%
daquilo que produzem. Por qual motivo ficariam parados?
E quanto
ao “estacionados”? Estacionados ou parados em algum ponto esperando algum
passageiro? Estacionados onde?
Outro
fator desconsiderado por vocês é o custo. Sendo jornalistas, entendo que os
amigos estejam informados custo do combustível. Não seria esse um motivo para
que os taxistas prefiram permanecerem em algum ponto esperando passageiros a
rodar vazio pela cidade e não pegar nenhum passageiro ou ainda pior, pegar um
passageiro que possa virar um assalto no final da corrida?
E aí
falamos de outro fator que é a segurança, também desconsiderado pelos amigos.
Nenhum
taxista prefere ficar parado. O caso é que as condições para que se rode em
Porto Alegre no horário de “rush” (entre 17h e 20h) são horríveis e deixam os
taxistas parados, presos, com algum ou sem nenhum passageiro, por muito tempo.
2) “Os dois principais motivos estão
intimamente relacionados: a presença dos Barões das Placas (homens que
administram, através de procurações, até 30 táxis) e a criação do sistema de
cobrança baseado no quilômetro rodado.”
Quanto ao
“Barão das Placas” (figura criada por vocês repórteres), de acordo com as
“informações” que vocês estão repassando, se é que ele existe ou pode ser
considerado assim, comanda menos de 1% da frota de táxi.
Se esse
tal “vilão” do ramo de táxis realmente instituiu essa modalidade de cobrança,
seriam esses táxis comandados por esse personagem, em um universo de 4 mil táxis,
que estariam influenciando em uma suposta falta de táxis em Porto Alegre?
Quanto ao
segundo ponto, não existe cobrança de valor por km rodado. A forma de
compensação do taxista auxiliar é a comissão, que varia entre 25% e 30% da
féria bruta auferida no decorrer do turno. O que pode existir no que se refere
a valores de km é sim a observação da quilometragem rodada como
mecanismo de controle, já que o táxi funciona com uma relação de confiança sem
nenhum tipo de controle mecânico da produção e fluxo de passageiros.
3) “Imposto por donos de veículos a seus
motoristas auxiliares, o pagamento pelo quilômetro percorrido (sem levar em
consideração o taxímetro) inibe a busca de clientes. Criada na década de 90,
mas disseminada nos últimos cinco anos com o fortalecimento dos Barões, a
cobrança pela quilometragem tem efeito direto na vida dos usuários de táxis.
É que o
valor a ser desembolsado pelo funcionário do veículo varia entre R$ 1,30 e R$
1,50 por quilômetro percorrido. O problema ganha dimensão porque a frota
permanece nas mãos de auxiliares durante 65% do dia.
– Em
média, se roda 200 quilômetros por dia, então um Barão embolsa cerca de R$ 300,
mesmo que o seu auxiliar tenha circulado metade dessa distância com carro vazio
em busca de cliente. Então, ninguém mais busca passageiro nas ruas – conta um
motorista que há 13 anos trabalha como funcionário."
Isso é praticamente impossível e inviável, tendo em vista que o valor do km é de R$ 1,95, pagar R$ 1,50 e mais R$ 0,40 a R$ 0,50 de combustível por km, os auxiliares estão trazendo de casa dinheiro para dar para os permissionários. E novamente, se isso acontece,
cobrança de valor por km, continuamos falando de 1% da frota.
4) "Como
consequência, grandes eventos realizados em bairros extremos deixaram de ser
atraentes para os taxistas. A conta feita por eles é a seguinte: o deslocamento
do Largo Glênio Peres, no Centro, por exemplo, à Fiergs, na Zona Norte, pode
custar até R$ 45 ao auxiliar. Mesmo que tenha a sorte de apanhar um passageiro
que o traga de volta ao ponto de origem, ele receberá R$ 42,6 pela corrida. Ou
seja, depois de quase uma hora de trabalho, o motorista ainda poderá sair no
prejuízo.”
Isso é impossível. Pelo Google Maps, a
distância do largo Glênio Peres até a Fiergs é de 17km. Tendo em vista que o
motorista pagaria supostamente 1,50R$ por Km esse valor seria de R$ 25,50 e não
R$ 45. E se fizesse uma corrida com o mesmo caminho de volta até o centro, com
mesma quilometragem, esse valor seria de R$ 37,05 na bandeira 1 e R$ 47,08 na
bandeira 2, tendo em vista que o valor do km é de R$ 1,95 e R$ 2,54
respectivamente e não R$ 42,60.
5) “O
artifício que virou regra entre os detentores de permissões afronta a
legislação municipal que, se respeitada, colocaria os táxis de volta às ruas.
Ela estabelece apenas duas possibilidades de remuneração dos auxiliares: a
divisão do faturamento, em que o permissionário fica com 75% do valor – o
restante vai para o motorista –, ou a contratação com carteira assinada, pouco
adotada.”
Isso não é regra. Sou permissionário de táxi e vivo o meio
desde que me conheço por gente, diga-se 1980. A regra é uma compensação/remuneração
variando entre 25% e 30%. Se essa cobrança de um valor por km, realmente
existe, ela é uma exceção.
6) “Uma
outra causa da carência de táxis está relacionada a uma lacuna no controle do
serviço. Zero Hora apurou que a troca de turno, a lavagem do veículo e o acerto
de contas entre donos de táxis e auxiliares ocorrem numa das horas mais
movimentadas do dia: entre as 16h30min e as 18h30min. O horário escolhido pelos
Barões das Placas leva em consideração razões privadas, desconsiderando o
interesse público. Dessa forma, eles evitam que seus funcionários fiquem presos
em engarrafamentos.”
Não sei a idade de vocês, tampouco do interesse pelo assunto
táxis, mas se conversarem com a maioria dos taxistas, principalmente os mais
velhos, verão que a troca de turno e lavagem dos táxis acontece nessa faixa de
horário desde a década de 70. Isso se dava pela necessidade de escolha de um
horário que existisse ônibus para que o taxista chegasse ao posto para pegar o
táxi, bem como da coincidência dos horários de funcionamento dos postos de
combustíveis que abriam às 6h e fechavam a noite, não permanecendo abertos durante
a madrugada.
Como os táxis trabalham em turno de 12h, consequentemente a
próxima parada para troca do turno era às 18h, ou seja, isso não tem nada a ver
com os supostos Barões das Placas que supostamente comandariam em torno de 1%
da frota.
E mais. Tendo em vista a maneira “maquiavélica” de
administração desses supostos Barões e pelo suposto modo de cobrança por
quilômetro rodado, que interesse teriam essas pessoas que o táxi não fique
parado no trânsito?
A minha opinião é de que a matéria de vocês beira a
irresponsabilidade, sendo generalista, sensacionalista e infundada, colocando a
sociedade contra todos os taxistas.
Como disse anteriormente, vivo o meio táxi desde a década de
80, já que esse sempre foi o negócio da família. Trabalho de forma honesta e
arrisco minha vida todas as noites em honra a um negócio que levou meu pai,
assassinado trabalhando no táxi, mas que sustenta a mim e minha família a mais
de 30 anos.
Posso lhes assegurar com tranqüilidade que isso que está
sendo noticiado se é que existe, não é uma regra.