segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O adultério

              Era uma madrugada de primavera. O ano era 2003.

            Tudo ia bem até que uma chamada da rádio táxi com um requisito estranho aconteceu: “O Carro tem que ter películas nos vidros no Ponto “X”.”

            Como eu estava no ponto “X” e preenchia os requisitos, ou seja, os vidros “peliculados”, escurecidos, me identifiquei e recebi o endereço para ir buscar o(a) cliente.

            Cheguei no local, parei e esperei. Dois minutos depois, no máximo, uma mulher de aparência bonita entrou rápido no táxi me desejando boa noite e perguntando se havia a possibilidade de alguém enxergá-la dentro do carro. Expliquei que era difícil de isso acontecer e já perguntei qual era o destino.

            Imaginava que seria mais um caso simples e comum – acreditem, é mais comum do que vocês imaginam - de adultério. Quando ela respondeu que queria ir até o Motel “Y”, minha suspeita se confirmou.

            Dirigi até o motel sem trocar muitas palavras, mas percebi que a mulher estava um pouco nervosa. Não quis entrar em detalhes, muito menos perguntar o que a deixava com aquele semblante nervoso. Fiz o que me cabia e levei-a até o destino escolhido.

            Sozinha dentro do táxi, ela escolheu o quarto mais barato, pagou por antecipação, como é de praxe dos motéis em Porto Alegre quando a pessoa vai de táxi, e já dentro do pátio do motel, pediu que eu andasse devagar.

            Sem questionar, fiz o que ela pedia. Logo em seguida, pediu para que eu observasse os carros, pois ela estava procurando um determinado carro azul nas garagens do motel. O referido motel possuía portas de garagem que não cobriam a traseira inteira do carro, deixando a mostra uma parte, o que permitia que se visualizasse facilmente a cor e até a placa dos veículos.

            Não demorou muito achei um carro azul. Ela pediu que parasse o táxi ali e foi o que eu fiz.

            Já não entendia mais nada, pois ela havia inclusive pago um quarto, que nem perto de onde paramos ficava. Mas tudo bem, como meu trabalho não é questionar, fiz o que me foi pedido.

            Ela disse: “Só um pouquinho moço, quero ver uma coisa.” e desceu do táxi. Foi até a porta da garagem, olhou por baixo, viu o carro e possivelmente a placa do mesmo e voltou.

            “Quanto te devo moço?” indagou ela. Dei o valor, ela me pagou e antes de descer em definitivo disse: “O sr. deve estar achando que eu sou louca e talvez eu seja mesmo. Sabe o que eu vim fazer aqui? Vim pegar o meu marido que ta com a amante ali dentro. O desgraçado é tão burro, que ainda trás a amante no mesmo motel que me trás de vez em quando. Ele vai ver só o que eu tenho pra ele...”

            Confesso que apesar do medo do que aquela mulher iria fazer, deu vontade de ficar ali pra ver e ouvir o que iria acontecer. Não fiquei. Não quis ser testemunha de um possível crime passional ou algo que o valha.

            A verdade é que juro que até hoje tenho curiosidade em saber o que ocorreu naquele quarto de motel. Acho que um crime não, pois sairia nos jornais, certo. Mas gostaria sim de saber o desfecho daquele possível flagrante de adultério.