Tudo ia bem até que uma chamada da
rádio táxi com um requisito estranho aconteceu: “O Carro tem que ter películas
nos vidros no Ponto “X”.”
Como eu estava no ponto “X” e
preenchia os requisitos, ou seja, os vidros “peliculados”, escurecidos, me
identifiquei e recebi o endereço para ir buscar o(a) cliente.
Cheguei no local, parei e esperei. Dois
minutos depois, no máximo, uma mulher de aparência bonita entrou rápido no táxi
me desejando boa noite e perguntando se havia a possibilidade de alguém
enxergá-la dentro do carro. Expliquei que era difícil de isso acontecer e já
perguntei qual era o destino.
Imaginava que seria mais um caso
simples e comum – acreditem, é mais comum do que vocês imaginam - de adultério.
Quando ela respondeu que queria ir até o Motel “Y”, minha suspeita se
confirmou.
Dirigi até o motel sem trocar muitas
palavras, mas percebi que a mulher estava um pouco nervosa. Não quis entrar em
detalhes, muito menos perguntar o que a deixava com aquele semblante nervoso.
Fiz o que me cabia e levei-a até o destino escolhido.
Sozinha dentro do táxi, ela escolheu
o quarto mais barato, pagou por antecipação, como é de praxe dos motéis em
Porto Alegre quando a pessoa vai de táxi, e já dentro do pátio do motel, pediu que
eu andasse devagar.
Sem questionar, fiz o que ela pedia.
Logo em seguida, pediu para que eu observasse os carros, pois ela estava
procurando um determinado carro azul nas garagens do motel. O referido motel possuía
portas de garagem que não cobriam a traseira inteira do carro, deixando a mostra
uma parte, o que permitia que se visualizasse facilmente a cor e até a placa dos veículos.
Não demorou muito achei um carro
azul. Ela pediu que parasse o táxi ali e foi o que eu fiz.
Já não entendia mais nada, pois ela
havia inclusive pago um quarto, que nem perto de onde paramos ficava. Mas tudo
bem, como meu trabalho não é questionar, fiz o que me foi pedido.
Ela disse: “Só um pouquinho moço,
quero ver uma coisa.” e desceu do táxi. Foi até a porta da garagem, olhou
por baixo, viu o carro e possivelmente a placa do mesmo e voltou.
“Quanto te devo moço?” indagou ela.
Dei o valor, ela me pagou e antes de descer em definitivo disse: “O sr. deve
estar achando que eu sou louca e talvez eu seja mesmo. Sabe o que eu vim fazer
aqui? Vim pegar o meu marido que ta com a amante ali dentro. O desgraçado é
tão burro, que ainda trás a amante no mesmo motel que me trás de vez em quando.
Ele vai ver só o que eu tenho pra ele...”
Confesso que apesar do medo do que
aquela mulher iria fazer, deu vontade de ficar ali pra ver e ouvir o que iria
acontecer. Não fiquei. Não quis ser testemunha de um possível crime passional
ou algo que o valha.
A verdade é que juro que até hoje
tenho curiosidade em saber o que ocorreu naquele quarto de motel. Acho que um
crime não, pois sairia nos jornais, certo. Mas gostaria sim de saber o desfecho
daquele possível flagrante de adultério.