terça-feira, 10 de abril de 2012

Táxis. Carta à Zero Hora e ao jornalista Pedro Moreira


Bom dia;
Lendo a reportagem do amigo referente aos táxis de Porto Alegre – Zero Hora do dia 10/04/2012, pag. 34 - gostaria de prestar alguns esclarecimentos.
Quanto aos dados dos referidos, dos táxis das capitais, o número de habitantes por táxi é inversamente proporcional à idade da frota.
Nos dados fornecidos pelo amigo na reportagem citando algumas capitais do Brasil, somente a frota de Belo Horizonte tem idade média menor do que a frota de Porto Alegre. Acho que isso seria importante de ser citado.
Quanto à demora na espera de táxis na rodoviária em retornos de feriadões, isso são situações atípicas, ou seja, de uma demanda excessiva em um determinado horário, o qual é agravado pela falta de mobilidade nos acessos à rodoviária.
Domingo à noite trabalhei e tive a oportunidade de ir até a estação rodoviária. Ocorre que vi uma cena contrastante, ou seja, uma fila gigantesca de pessoas esperando táxis e uma fila de táxis não menos numerosa, que começava na rotatória da rodoviária (Ernesto Alves x Vespasiano Veppo) e se estendia até a Av. Farrapos, pela própria rua Ernesto Alves.
Talvez 300, 400 passageiros na fila e um número pouco menor de táxis, também em fila indiana tentando acessar a rodoviária, coisa que está se tornando cada vez mais impossível.
Outro fato agravante é o domingo. Sei que o amigo talvez não faça parte do seleto grupo que tem a sua folga semanal aos domingos, ainda que a lei trabalhista oriente que pelo menos uma folga mensal seja nesse dia da semana. Mas tenho certeza que o amigo, se pudesse escolher, escolheria talvez o domingo para ficar com a sua família e aproveitar os momentos de lazer.
Pois então. Isso acontece com os taxistas. Muitos e esse é o meu caso, escolhem o domingo como dia de folga para aproveitar com suas famílias. Aí o sr. perguntará: "Mas e por que não coloca um “folguista”, já que são autorizados o permissionário, mais um motorista e mais um “folguista”?
Lhe respondo com propriedade e já justificando o porque não tenho “folguista” no meu táxi. Acontece, que apesar de a prefeitura, representada pela EPTC, autorizar essa categoria de profissionais, a justiça do trabalho, só reconhece como auxiliar somente um condutor além do permissionário. Um segundo ou terceiro, não é reconhecido como auxiliar e sim como empregado, fazendo recair sobre o permissionário de táxi o ônus do vínculo empregatício e todos os seus encargos, que na minha opinião, inviabiliza a atividade de taxista, pelo menos na qualidade de permissionário.
Ademais, enquanto o passageiro em 2 ou 3 ocasiões do ano, no caso da rodoviária, se sente prejudicado por ter que esperar 30, 40 minutos por um táxi, não é computado pela imprensa, o restante dos dias ou noites em que o taxista fica 2, 3, 4 ou até 5 horas, sem fazer nenhuma corrida. E isso não é exclusividade do ponto da rodoviária. Hoje, por exemplo, eu fiquei parado em frente à empresa onde o amigo trabalha (Grupo RBS na Érico Veríssimo), das 0:00h até as 3:00h da manhã concorrendo com as chamadas da Tele Táxi Cidade e com os passageiros da rua, e acabei desistindo de ficar parado e recolhi o meu táxi para minha casa. E esse fato de ficar mais de uma ou duas horas sem ter nenhum passageiro, não é exclusividade da segunda-feira à noite. Acontece nas terças, quartas e dependendo da época do mês, até nos finais de semana.
As vezes penso que ou os senhores esquecem ou simplesmente ignoram o fato de morarmos em uma capital que possui um carro para cada dois habitantes. Que essa capital, não tem mais para onde expandir, que as obras viárias, antes mesmo de acontecer, já estão defasadas, tamanho é o número de veículos que temos circulando. Perceba também, que o passageiro que enfrentou a espera por táxi na rodoviária é o mesmo que possivelmente enfrentou duas ou três horas a mais na estrada em função dos congestionamentos, ou seja, as estradas também estão saturadas.
Outro ponto que gostaria de clarear para o amigo é que nos dias de chuva, nos horários de maior fluxo (17:30hs a 19:30hs), a média de corridas de um táxi é de uma a cada 40, 45 minutos, pelo fato da demora para chegar até o cliente e a demora para largá-lo em seu destino, devido aos congestionamentos. Infelizmente, não temos mobilidade para melhor atender o público que necessita de táxis nos horários de maior fluxo.
Quanto às empresas de tele táxi, essas estão sujeitas aos mesmos imprevistos que qualquer outro estabelecimento nos dias de chuva. Tais como falta de luz, internet, telefone, etc. Hoje os taxistas que utilizam a Tele Táxi Cidade, possuem como meio de comunicação com a central um GPS com sistema 3G de comunicação. Quantas pessoas o Sr. conhece que em dia de chuva ficam sem celular, pois as operadoras dão algum tipo de pane? E sem internet? Quantas vezes a empresa do amigo, uma das maiores do sul do país, já ficou sem internet? E sem fornecimento de energia elétrica? Quantas vezes? Pois é. As empresas de tele táxis são empresas bem menores que o Grupo RBS e estão sujeitas a todos esses problemas. E muitas vezes, nós taxistas, nem sabemos que a tele táxi está inoperante e ficamos aguardando por chamadas que não virão.
Outra pergunta que lhe faço é: Quantas pessoas o amigo conhece que terminam o seu expediente entre 17:00 e 19:00hs? O sr. acha que mesmo tendo 10000 táxis em Porto Alegre, todos os usuários que necessitam de táxis nesses horários vão ser bem atendidos? O sr. acha que acrescentando à frota de veículos de Poa, mais 1000, 2000, 5000 táxis em somatório com os quase 100 carros novos particulares que são emplacados na capital diariamente, teremos realmente um bom atendimento aos usuários de táxi?
E mais. O sr. não acha que um número maior de táxis pode diminuir a renda dos taxistas e fazer com que a frota fique sucateada?
E que com essa diminuição da renda, obrigue o permissionário a trabalhar mais para manter o padrão de vida alcançado e com isso dispense o motorista auxiliar e ainda trabalhando mais, diminua sua qualidade de vida?
Entendo que o serviço de táxis de Porto Alegre, não é o melhor do mundo, agora pauta-lo por ocasiões que não são gerais, não é a melhor maneira. Encher a capital de táxis, por causa de uma demanda diária de duas a três horas? Será mesmo? E depois, passado esse horário de maior demanda, o que se faz com todos esses táxis que vocês idealizam que Porto Alegre precisa?
Mobilidade urbana é a palavra de ordem. Dar condições para que nós taxistas possamos atender os usuários. Qualificar os motoristas, principalmente no que diz respeito ao atendimento ao cliente. Depois de tudo isso, aí sim rever a frota.
Espero que tenha esclarecido alguns pontos ao amigo jornalista e que o sr. tenha um contraponto na sua análise.
Aproveito e me coloco a disposição para qualquer outro esclarecimento que o amigo periodista necessite.

José Carlos Gonçalves.
Permissionário de táxi em Porto Alegre.

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