terça-feira, 21 de junho de 2011

Comércio irregular de táxis em Porto Alegre


Diante das denúncias realizadas pelo grupo RBS referente à venda irregular de táxis, esperei até agora para ver de que forma se resolveriam as coisas para me manifestar. Mas, como em tudo que o poder público está envolvido, muito provavelmente as coisas irão demorar, resolvi me manifestar a respeito.

Vejamos.

Tenho 31 anos de idade e desde que me conheço por gente, vivo o meio táxi. Minha família atua no ramo, muito antes de eu nascer. Todos os táxis que a minha família possuiu – que chegaram ao número de 5 – foram comprados de alguém. Meu pai, que morreu assassinado trabalhando em um dos seus táxis, sacrificou muito do seu tempo, abdicando de férias, divertimentos e outros tipos de lazer, além da sua própria vida para trabalhar, trabalhar e trabalhar para juntar dinheiro, comprar os seus táxis e assim adentrar a um ramo de negócios, que se não lhe deixaria rico, lhe garantiria um bom padrão de vida e uma boa aposentadoria, que não conseguiu aproveitar, claro, ao custo de muito trabalho, como a maioria dos ramos autônomos.

Claro que com mais de um táxi meu pai não conseguiria trabalhar sozinho. Surgira então oportunidade para que outros o auxiliassem no trabalho, sob a condição de uma comissão, normalmente de 25%, pelo trabalho realizado com base na féria bruta[1] auferida no turno de trabalho. Com isso, não só meu pai, mas os seus auxiliares, cresceram e tiveram oportunidade inclusive de comprarem seus próprios táxis, mediante muito trabalho e sacrifícios diários, o que testemunhei acontecendo em mais de uma oportunidade.

Agora, em 2011, sob algum tipo de interesse, imprensa, ministério público, vereadores, etc, resolveram “fiscalizar” a venda de táxis em Porto Alegre, bem como os preços praticados para esses negócios.

Quem estudou Direito, sabe que uma das fontes do direito é o costume e para alguns não só fonte, como o direito propriamente dito, mas não será essa a discussão.

Então pergunto.

Alguém ousa duvidar que um negócio que é realizado desde 1973 – ano em que foram distribuídas as permissões de táxi em Porto Alegre – até agora, 2011, ou seja, durante 38 anos, não é um costume?

Bom se isso na for um costume, perdi a compreensão do que seja.

Se é que existe, desafio a EPTC ou SMT para que faça um levantamento de quantos ainda são os permissionários remanescentes de 1973. E mais, desafio a demonstrar o número de transferências de permissão que existiram desde 1973 até os dias de hoje. São muitas, podem acreditar, muitas mesmo.

Bem, quanto à legalidade, já que é permitida a transferência, mas não a venda do táxi ou permissão, faço outro questionamento:

Alguém acredita que a SMT ou EPTC não sabia que essas transferências eram feitas sob pagamento?

Vale lembrar que se existe irregularidade nesse tipo de comércio, o grupo RBS colabora com essas irregularidades, pois os anúncios de vendas de táxis e permissões são abundantes nos classificados dos periódicos distribuídos pelo grupo.

Outro fato que corrobora para provar esse costume e essa regularidade, são as inúmeras decisões judiciais, considerando um valor monetário a essa permissão, seja para divisão de bens relacionados à separação judicial, seja na partilha de bens referentes às ações de inventário[2] de bens.

Desculpem os que pensam o contrario, mas diante de todos esses fatos, não consigo visualizar essas vendas de táxis como negócios irregulares e ilegais.

Quanto ao Sr. Sérgio “Santa Maria”, que foi fonte de notícias, cuja figura em particular nem conheço, foi tratado como “Barão dos Taxis” por ser locatário de mais de 30 permissões de táxi. O que tem de errado? Se for a questão dos impostos, não tem nada de errado, pois os táxis e permissões ficam em nome dos seus donos que recolhem imposto de renda, ou seja, os cofres públicos não sofrem prejuízo. Claro que alguns podem querer caracterizá-lo como empresário e tributá-lo como tal. Afirmo com absoluta certeza que isso inviabilizaria a continuidade da atividade, dados o ônus dos pesados encargos trabalhistas e também pelo fato de que a atividade funciona desde sempre na base da confiança, já que não existe maneira de se fiscalizar de forma objetiva e exata aquilo e o quanto o motorista faz durante o seu turno de trabalho. Prova disso é o número de empresas que existem no ramo de táxi, que hoje é uma única que está encerrando as atividades, por essa falta de inviabilidade a qual citei há pouco.

O táxi é por excelência um trabalho autônomo e os motoristas não são empregados e sim auxiliares, autônomos como os permissionários. Qualquer mudança nessa condição, seria obstruir a continuação da atividade pela falta de condições financeiras.

Voltando ao caso do Sr. Sérgio, que é locatário de mais de 30 táxis, como foi noticiado, o mesmo está dando trabalho para pelo menos 60 motoristas, tendo em vista que os táxis trabalham em 2 turnos. E agora? O que é o certo? Obrigar ele a devolver aos proprietários esses carros, fazer com que esses proprietários trabalhem e deixar 60 motoristas sem trabalho, ou regularizar a situação do Sr. Sérgio e muitos outros que fazem a mesma coisa e deixar que pelo menos 60 famílias continuem a ter a renda do trabalho em táxi?

O Sr. Sérgio e outros que praticam os mesmos atos são criminosos ou são pessoas que dão oportunidade e trabalho a outros?

O comunicador e produtor do programa Pretinho Básico da rádio Atlântida Sr. Maurício Amaral, se manifestou a respeito do caso “Barão dos táxis”, dizendo que era injusto que uma única pessoa possuísse 30 táxis e os motoristas trabalhassem para ele ganhando pouco e ele ficaria com todo o lucro.

Perguntaria para o mesmo: Qual a empresa ou empregador que dá a título de pagamento para o seu empregado ou colaborador, no mínimo 25%[3] do valor bruto, daquilo que ela, empresa, produz?

Será que o Sr. Sirotsky paga isso para os seus colaboradores?

E porque não seria justo vários taxistas trabalharem e ganharem por isso e um locatário, possuidor, ter lucro com isso? Então o Sr. Maurício Amaral não deveria achar justo trabalhar no grupo RBS, cujo proprietário fica com o lucro do trabalho de outros.

Outro lobby feito pelo grupo RBS, nas pessoas dos Sr.s Francisco Amorim e Humberto Trezzi, repórteres de Zero Hora, foi referente ao número de táxis na capital que é o mesmo desde 1973. Trouxeram a tona o fato de que a população e o número de carros haviam aumentado muitas vezes mais e que o número de táxis permanecia o mesmo.

Em contrapartida, na mesma reportagem/vídeo do site da Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3357079.xml), o Sr. Humberto Trezzi pergunta e o mesmo tempo responde o porquê faltam táxis em Porto Alegre nos horários de trânsito intenso e dias de chuva, ou seja, ele reclama da demora e da falta e ao mesmo tempo traz a resposta com um dado o número de carros particulares (600 mil) que hoje transitam pelas ruas e avenidas da capital dos gaúchos. O trânsito é caótico, o tempo de deslocamento, principalmente nesses horários de trânsito mais intenso, é muito maior. Mesmo que Porto Alegre tivesse o dobro de táxis, não se conseguiria atender a todos os usuários em tempo satisfatório nesses momentos de maior demanda, ou seja, dias de chuva e horários de pico. E mais, colocar mais táxis em Porto Alegre não seria colocar mais carros no trânsito? Ou eles acreditam que tendo mais táxis em Porto Alegre as pessoas deixariam seus carros e utilizariam táxis? Bem, se acreditam nisso, acreditam em Papai Noel, coelhinho da Páscoa, etc.

Se com esse número de táxis, eu que trabalho a noite, fico por vezes até 6hs sem transportar um passageiro – convido quem quiser a passar uma madrugada de segunda ou terça-feira na rua comigo para comprovar o que eu digo – imagina aumentando o número de táxis? Meu Deus, nem quero pensar nisso!

Poderia escrever muito mais sobre o tema,mas vou esperar as provocações, dúvidas e desmembramentos que virão.


[1] Quantidade de dinheiro total, sem desconto das despesas, auferido durante o turno de trabalho.
[2] Para Cesar Fiusa, professor e doutor em Direito: "Inventário é meio de liquidação da herança. É processo pelo qual se apura o ativo e o passivo da herança, pagam-se as dívidas e legados, recebem-se os créditos etc."

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/24162/1/Inventario/pagina1.html#ixzz1PuYK3uwQ
[3] O valor pago a título de comissão para um taxista auxiliar varia entre 25 e 30% do valor da féria bruta declarada pelo mesmo.

domingo, 5 de junho de 2011

Panfletos

Depois de uma saída durante o dia pelas ruas de Porto Alegre, dei ma olhada dentro do meu carro e fiz uma constatação. O carro estava cheio de papéis. Cheio, não é figura de linguagem. Eram realmente muitos papéis. Desde anúncios de novos empreendimentos imobiliários, passando por propagandas de pet shops, comidas, promoções de peças, som automotivo e até de casas de “massagem”. Isso mesmo, esse tipo de “massagem” que vocês estão pensando. Detalhe que, quem entrega os panfletos das casas de “massagens” são as próprias “massagistas”. Mas isso na vem ao caso.

O caso é que, essa grande distribuição de panfletos, além de ser um grande desperdício dos meios naturais, pois é papel – nenhum deles que eu parei para ver era de papel reciclado – é um importuno para os motoristas.

Quase todas as sinaleiras, semáforos ou sinais, como queiram, de Porto Alegre, possuem uma pessoa distribuindo algum tipo de papel, com alguma propaganda de alguma coisa. Nós motoristas ou até mesmo passageiros, muitas vezes para ajudar aquele trabalhador – pois a maioria dos panfletários são obrigados a distribuir uma quantidade “x” de panfletos pra poder terminar seu turno – vamos arrecadando os papéis distribuídos ao longo da cidade e assim enchendo o carro de papéis. Isso quando alguns mal educados, não dobram na primeira esquina a atiram o papel pela janela, sujando a cidade.

Na hora de limpar o carro, em casa ou em uma lavagem, esses papéis todos de dentro do carro que vão parar em uma lixeira, normalmente com lixo comum orgânico, sem dar oportunidade para que se recicle aquele papel todo. Pois se poucos são os que lêem os papéis pegos nas sinaleiras, menos ainda são aqueles que depois se preocupam em dar um fim correto a esses papéis.

Mas aí alguém dirá: Se tu sabes de que propaganda se trata, é porque tu leste. E se tu leste, o panfleto atingiu a finalidade a qual foi criada.

Respondo: Não. Na verdade, pra mim foi um tiro no pé, pois além de um incomodo, ainda tratam-se de empresas, lojas ou o que for, cujo comprometimento com a sustentabilidade é próximo de zero. Ou seja, ganhou minha antipatia.

Outro dirá: Mas isso dá emprego para as pessoas.

Na verdade não é emprego, é trabalho. Na maioria, senão todos, esse trabalho é realizado sem um contrato formal, em condições completamente precárias, sem refeições e intervalos e o “salário” é com base no dia trabalhado e de uma cota a ser distribuída, sem limite de tempo para a jornada de trabalho. Com certeza para quem está ali e melhor esse “dinheirinho” do que ficar em casa sem ganhar nada. Mas será que é o certo? Quantos de vocês já viram aquelas pessoas no “olho do sol”, com 40 graus de calor a sombra, entregando panfletos? Não seria isso, justamente uma forma de pressão, para que sintamos pena e peguemos aqueles papéis “para ajudar” aquele que está distribuindo a entregar sua cota o mas rápido possível e sair daquele sol escaldante? Seria certo zelarmos ou estimularmos esse tipo de trabalho?

Tenho certeza de que os papéis não são a única maneira de entrar nos nossos carros. O Pretinho Básico, Cafezinho, Brasil na Madrugada, que o digam. Alguém duvida? Eu é que duvido, de alguém que escuta um desses programas, que são diários, que não lembra de pelo menos um anúncio feito por eles. Todos nós lembramos, nem que seja de um, mas lembramos. São todos programas de rádio de grande audiência, principalmente entre os motoristas.

Isso que nem falamos da distribuição de panfletos nas ruas quando estamos andando, como por exemplo no centro, onde, caminhando, quase somos agredidos para que peguemos um papel. E esses já têm destino certo. O chão das ruas.

Quer vender seu produto ou serviço, gasta um pouquinho mais, e anuncia em uma rádio qualquer. É muito mais limpo, rápido, muito, mas muito menos incomodo e socialmente responsável.

E o rádio é só um exemplo. Têm ainda outdoors, faixas e outros.

Mas se ainda assim, optar pelo velho panfleto, que o faça de forma ecologicamente responsável. Continuará importunando, mas de uma maneira menos agressiva ao meio ambiente.